Emoções - Será possível aprender a lidar com as 'difíceis'? (parte 1/2)
- Helga Cristiana Gonçalves
- 2 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de jan. de 2024
Desde tempos remotos que o ser humano tem como principal objetivo preservar a sua vida, evitar riscos e fugir do sofrimento. A busca pelo bem-estar é subjetiva, no entanto transversal à humanidade, e os votos renovam-se ao início de cada ano civil.
Os mecanismos de defesa preservam a nossa integridade física e psicológica, e nesse sentido, as emoções podem constituir por si só ferramentas que nos ajudam a identificar e a processar o que acontece connosco, e no mundo com o qual interagimos.
Do latim ‘ex movere’, a emoção é traduzida como ‘movimento, comoção, ato de mover, para fora’.
Para António Damásio, a emoção consiste numa variação física e psíquica, desencadeada por um estímulo, sendo automática e experimentada de forma individual e subjetiva. Então, será que podemos referir que existem emoções difíceis? A nível científico considera-se que todas as emoções são úteis, constituindo um meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia para respondermos de forma adaptativa. Pode é considerar-se que a resposta emocional nos conduz a estados desconfortáveis e/ou de sofrimento, pelo facto de dizerem respeito ao âmbito mental, e também a implicações bioquímicas, orgânicas e comportamentais. Se sentimos que algo nos retira paz interior, por exemplo relembrar um passado com momentos de dor, e surgirem ainda emoções como a tristeza, mágoa, injustiça, é natural que a presença desse estado emocional seja difícil, pelo desconforto de reviver o sofrimento, mas também podemos assumir que as emoções são informação útil, no sentido de nos indicar que algo ainda pode ser trabalhado no sentido de atenuar essa mesma dor.
Efetivamente, o sofrimento pode ser constituído por um conjunto de emoções, representações mentais, sensações físicas, com origem em diversas vertentes e conceptualizações (físicas, psicológicas, materiais, imateriais, pessoais, coletivas, culturais, mundiais…). Importa salientar que para se aprender a lidar com o sofrimento (as tais ‘emoções difíceis’), temos primeiro que contextualizar a forma como ele foi construído e como ainda se apresenta na nossa vida atualmente. Segundo Martin Seligman (2002) o primeiro passo para nos libertarmos de um passado que nos magoa, e, vivermos com mais felicidade o nosso presente, passa por compreendermos a importância de experimentarmos emoções positivas no dia a dia, emoções essas em relação ao nosso passado, ao presente e ao futuro. Ao prestarmos atenção ao modo como sentimos (passado), vivemos (presente) e pensamos (futuro), podemos regular as nossas emoções direcionando-as de maneira mais positiva.
Em relação ao passado, a gratidão e o perdão são duas estratégias fundamentais para aumentar a satisfação/libertação com o mesmo
No presente, viver saboreando os prazeres simples da vida; sentir paixão pela vida e pelos objetivos; amar-se a si mesmo e sentir amor pelos outros e por todas as formas de vida; passar mais tempo com pessoas queridas, desenvolver relações positivas à sua volta e pôr em prática no dia a dia o que se tem de melhor (as nossas forças internas) são algumas das atividades intencionais que nos permitem desenvolver mais emoções positivas no nosso presente. Emoções positivas no presente são o bem-estar e apreço pelo momento.
Em relação ao futuro, a esperança e otimismo são emoções positivas; as habilidades de otimismo podem ser aprendidas e desenvolvidas.
Neste sentido, convido-o/a a construir uma lista, onde coloque o que gostaria de agradecer em relação ao seu passado (mesmo que inclua momentos menos bons), e o que escolhe perdoar (no sentido de libertar o que já não pode resolver, e assim seguir mais leve no seu dia-a-dia). Acrescente à sua lista os ingredientes positivos do seu presente (por exemplo, ter saúde, conviver com pessoas de quem gosta, apreciar cada momento…), e desenvolva a capacidade de olhar de forma mais carinhosa para si, para os outros e para o futuro.
É possível aprender a lidar com emoções ‘difíceis’? A resposta é sim, é possível.
Helga Cristiana Gonçalves
Psicóloga Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses | Terapeuta com PNL | Master Coach | Facilitadora de Cura Reconectiva®️
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