Adolescência, e agora?
- Helga Cristiana Gonçalves
- 24 de abr. de 2024
- 4 min de leitura

A família, os amigos, a escola, são sistemas fundamentais que necessitam de suporte e de aprender a lidar com o/a adolescente, nesta peculiar fase de desenvolvimento.
Para além do vínculo afetivo, a família, amigos e sistema escolar, entre outros contextos de pertença dos jovens, devem constituir pontos de segurança e suporte fundamentais, que permitam que a/o adolescente se sinta acolhida/o, compreendida/o e aprenda a lidar com esta fase tão desafiante da sua vida.
Tudo é motivo de dúvida, questionamento, e há uma procura incessante do ‘seu lugar no mundo’, tal e qual como é.
Pode ser muito exigente lidar com esta fase, levando as pessoas a sensações de frustração, exaustão, incompreensão, sentimento de culpa - Onde estamos a falhar? - tristeza, desânimo, confronto, conflitos, elevado desgaste emocional….
Importa ainda salientar que não se acorda adolescente de um dia para o outro, é um processo progressivo da criança, uma fase de transição para a maturidade e idade adulta, com mudanças reais a nível biológico, psicológico, cognitivo e social.
Adolescência, do latim adulescere: crescer, desenvolver, tornar-se maior.
Quais as principais especificidades desta fase de desenvolvimento?
Início da puberdade, com todas as alterações físicas, hormonais, mentais, emocionais, sexuais, e sociais que impactam no dia a dia.
Dificuldades em se sentir integrado/a, demonstrando irritabilidade e desânimo contínuo;
Quando falam com ele/a parece não escutar;
Transmite a sensação de que está ausente ou distante;
Dificuldade em seguir instruções, pois a postura é de análise, contestação e teste de limites;
Frequentemente não termina o que inicia e tem dificuldade em cumprir compromissos, tais como: trabalhos de casa, estudo, tarefas domésticas;
Dificuldade em organizar tarefas e atividades;
A perceção de falha pode estar presente, tanto para si, como que vai desiludir as outras pessoas;
Pode esquecer-se, com frequência, das atividades quotidianas;
A perceção de tempo pode ser alterada, por exemplo pode estar sem atenção ao que é pedido, pois a mente esteve ocupada durante esse período com outras questões;
Tendência para o isolamento se se sentir incompreendido/a;
Pode parecer pouco comunicativo/a;
Novos processos mentais estão em construção e a gestão emocional passa para outro âmbito de satisfação, pois vai havendo a auto-perceção de identidade e construção da personalidade,
Busca e afirmação do próprio 'EU':
(…)
O que sente um/a adolescente?
Dificuldades diárias relacionadas com a sua auto perceção, que para os adultos podem parecer simples de superar, o que pode levar a incompreensão mútua;
Sentimento de frustração, tristeza e culpa por não conseguir estar e ser como o esperado (por ele e pelos outros);
Sensação de que é seu dever afirmar-se e contrariar significativamente o que considera incorreto no seu mundo em particular, e no mundo em geral;
Sente que não corresponde ao que os outros esperam de si, e por isso pode ter tendência a isolar-se e a passar despercebido/a;
Falta de autoestima e autoconfiança, sentimento de inferioridade, insegurança podem estar presentes…
Desenvolvimento e uma postura “agressiva-confrontativa”, cuja intenção é proteger-se das inseguranças que sente;
Necessidade de experimentar realidades até então 'negadas' às crianças, por forma a se auto afirmar;
Curiosidade e inquietação constantes;
Rápido desejo de ser adulto;
(…)
Como a família pode acolher esta fase?
Proporcionar um ambiente seguro, calmo, com estrutura e rotinas;
Ter presente que a é uma fase normativa do desenvolvimento humano – não é algo simples de lidar, mas não há culpados nesta situação – aprender a gerir o cansaço, a frustração é fundamental para todos;
Comunicar de forma clara, objetiva, com pedidos simples, sem infantilizar o jovem, que está em desenvolvimento e que já pretende que a sua opinião seja considerada com respeito;
Ter presente que pode haver momentos com grandes variações de humor, e que isso não traduz falta de respeito, ou falta de compromisso, e sim um momento neurofisiológico, hormonal/emocional;
Combinarem, entre todos, incluindo o/a adolescente, como podem ajudar-se mutuamente, com um equilíbrio entre regras e a autonomização-responsabilidade do/a jovem;
Reconhecer o esforço diário, e elogiar quando algo corre bem;
Quando algo corre mal, ou menos bem, tentar compreender o que levou àquele resultado, (sem condenar) – e reforçar que na próxima vez pode correr melhor;
Evitar repreender constantemente – em vez disso utilizar estratégias combinadas entre a família. E quando for necessário chamar a atenção de algo, fazê-lo em privado;
O quarto deve ser o mais simples e ‘leve’ possível, arrumado, para retirar sensação de desordem mental, e evitar estímulos desnecessários – o quarto não deve ter aparelhos tecnológicos (emitem radiações, que podem interferir negativamente na regulação emocional e descanso);
Atividades em conjunto, direcionadas para o lazer, exercício físico, partilha e conexão emocional, e adequadas à idade do/a jovem;
Promover momentos em família para desenvolver o foco no presente, harmonia, compreensão, suporte e confiança.
Dar espaço ao jovem para que se auto conheça, estando presente e disponível para conversar (sem julgar) quando ele/a precisar;
Construir espaço para a comunicação sem pressionar ou criar um ambiente 'artificial';
Adotarem o lema: mais liberdade proporcional responsabilidade, e aplicar com bom senso nas diferentes idades do jovem, pois um/a adolescente de 13 anos é diferente de um/a adolescente de 16 anos.
(…)
Nós, enquanto adultos já passamos por estas idades. O que mais necessitávamos naquela época?
Amor com limites/regras pode ser um excelente caminho de crescimento do sistema familiar, estando com e para uma sociedade melhor e mais salutar.
Confiança, respeito, segurança, união, liberdade, responsabilidade, compreensão!
Helga Cristiana Gonçalves
Psicóloga Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses | Terapeuta com PNL | Master Coach | Facilitadora de Cura Reconectiva®️
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